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#FacebookPapers: o que a maior crise da empresa significa para você

A rede não tem agido para resolver os problemas que ela mesma tem criado, como ampliação de desinformação, danos à saúde mental, polarização política e impulsionamento de discurso de ódio.

#FacebookPapers: o que a maior crise da empresa significa para você


As revelações trazidas à tona pelas reportagens do #FacebookPapers podem ser o grande escândalo do ano e, possivelmente, resultar na maior crise da história do Facebook. E parece que o que vimos até agora ainda é apenas a ponta do iceberg.

Pelo menos é o que promete a whistleblower

Pessoa, geralmente anônima, que apresenta informações e denúncias sobre atividades, muitas vezes ilícitas ou problemáticas, ocorrendo dentro de uma empresa ou organização.

Frances Haugen que sinaliza que há mais documentos a serem liberados, em especial que revelam mais sobre a atuação -- ou melhor, a falta de atuação -- do Facebook em países do Sul Global. Segundo o Washington Post, já há outro whistleblower em contato com parlamentares do Congresso dos Estados Unidos.


É importante porque…


Quase que para reforçar a principal das revelações das reportagens -- de que o fundador e CEO Mark Zuckerberg priorizou o lucro acima de segurança -- os resultados trimestrais da empresa reportados na segunda-feira mostram que o Facebook, mesmo meio decadente, é uma máquina de fazer dinheiro.

O lucro foi de US$ 9,2 bilhões no trimestre encerrado em setembro, o que representa um aumento de 17% na comparação com o mesmo período do ano anterior. A base de usuários das aplicações do grupo também cresceu 12% no ano.

No call com investidores, segundo a CNN, Zuckerberg não tentou fingir que nada havia acontecido no dia, mas optou pelo caminho de retratar as reportagens como uma campanha coordenada para "pintar uma falsa imagem" da empresa.

"A realidade é que temos uma cultura aberta que encoraja discussão e pesquisa sobre o nosso trabalho para que possamos ter progresso em muitos assuntos complexos que não são específicos somente a nós", disse o executivo durante a ligação.

Em parte, Zuckerberg mente ao falar sobre a cultura aberta. O FB, assim como outras redes sociais, são tão fechadas e opacas que a sociedade depende de vazamentos e whistleblowers para conhecer mais sobre o funcionamento interno. Acadêmicos, por exemplo, seguem no escuro quanto ao material vazado por Haugen, visto que ela optou por abrir o material apenas a jornalistas dos EUA e Europa, por enquanto.

Por outro lado, Zuckerberg está correto em dizer que há pesquisa. Os documentos disponibilizados por Frances Haugen que embasam os #FacebookPapers mostram que há muita pesquisa sendo feita dentro da empresa, o que seria suficiente para nortear mudanças na plataforma para aumentar a segurança e mitigar riscos.

E talvez essa seja a maior das revelações dessa investigação: a despeito das pesquisas e apesar de saber que a plataforma estava fazendo mais mal do que bem a pessoas e democracias, o alto escalão do FB optou pelo status quo, rejeitando mudanças que poderiam tentar corrigir as falhas da plataforma.

"A liderança da empresa sabe maneiras de tornar o Facebook e o Instagram mais seguros e não fazem as mudanças necessárias porque eles colocaram seu imenso lucro acima das pessoas", disse Haugen durante seu depoimento ao Senado dos Estados Unidos.

Para além do consórcio de 17 veículos que está em posse dos materiais cedidos por Haugen, as revelações sugaram jornalistas de tecnologia dos EUA e do mundo pela gravidade do material. Mas fora dessa limitada bolha, as revelações parecem ter tido pouca atenção de usuários comuns, até porque entender o que está sendo trazido à tona não é a mais simples das tarefas.

Por isso, como é a nossa missão central aqui no Núcleo, tentaremos explicar o que esse despejo de informações sobre a máquina interna do FB significa para você:

1. O Facebook ganha em cima do ódio

"Estamos literalmente subsidiando ódio nestas plataformas" - Frances Haugen, ex-gerente de produtos do Facebook

Tradução: Nós vimos várias e várias vezes em pesquisas do Facebook que é mais fácil provocar pessoas ao ódio do que a empatia e compaixão, então estamos literalmente subsidiando ódio nestas plataformas. É mais barato, substancialmente, promover um ad de ódio e divisivo do que promover um ad empático e de compaixão.


Ou entre para o Lixo Eletrônico

2. As redes do FB fazem mal a jovens -- e isso era conhecido

3. Mesmo sabendo do seu papel-chave em processos eleitorais, FB escolheu não agir

4. Se está ruim para os EUA e Europa, imagina para o Sul Global

E AGORA?

O que acontecerá daqui para frente ainda é incerto, mas é fato que as revelações trazidas por Haugen tanto em seu depoimento ao Congresso dos Estados Unidos quanto nos documentos preparam o terreno para ações regulatórias.

Já no início de seu depoimento ao Congresso, a ex-funcionária é enfática ao dizer que o Facebook não consegue resolver essa crise sozinho, e depende de ação do Congresso, algo que até o próprio Mark Zuckerberg ventilou -- ao menos em uma nota pública após a fala da Haugen.

Fora dos EUA, as revelações também repercutiram. Na segunda-feira, a ex-funcionária foi ouvida no Parlamento do Reino Unido. Há expectativa de que ela seja ouvida no Parlamento Europeu no início de novembro a convite de membros da Comissão de Proteção ao Consumidor e Mercado Interno.

Esse depoimento de Haugen viria num momento chave, dado que parlamentares europeus estão discutindo duas peças de legislação para regular o setor: o Digital Services Act e o Digital Markets Act.

Também há notícias de que o Facebook poderá mudar de nome. Segundo o site The Verge, a mudança seria para refletir os esforços da empresa na construção do metaverso, mas uma outra motivação também pode ser a de se dissociar dos escândalos recentes.

COMO FIZEMOS ISSO

Estamos acompanhando as revelações desde que as primeiras reportagens do Wall Street Journal saíram no fim de setembro e, desde o início da semana, temos lido as reportagens que integram o Facebook Papers.

Na segunda-feira, 25.out, já havíamos reunido e organizado as principais reportagens publicadas até então, mas agora decidimos destrinchar e traduzir alguns dos principais pontos trazidos à tona.

Escolhemos destacar alguns dos principais achados para demonstrar o impacto destas revelações na vida de usuários comuns das redes sociais, como é a nossa missão aqui no Núcleo.

Reportagem Laís Martins
Arte Rodolfo Almeida
Edição Alexandre Orrico

Laís Martins

Laís Martins

Laís é jornalista pela PUC-SP e mestra em comunicação política pela Universidade de Amsterdam. Suas reportagens focam em direitos humanos, política e tecnologia. No Núcleo, atua como repórter.

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